sábado, 3 de setembro de 2011

The Good Wife é a melhor série jurídica da atualidade


Sou viciado em séries. Já acompanhei muito seriado ao longo dos meus 25 anos e tenho a mente aberta pros diversos gêneros. Assisto de tudo um pouco, sempre que possível ou quando me interessa.

Inevitavelmente, as séries jurídicas chamam a minha atenção. Há pouco tempo, eu parei para me atualizar com as duas temporadas do seriado jurídico The Good Wife, que eu via por pedaços na TV.

Muita gente estranha o fato de uma série jurídica se chamar "A Boa Esposa". De fato, o nome parece ser de algum programa sobre uma dona-de-casa desesperada ou uma versão jurídica de Grey's Anatomy, mais preocupada em ver os personagens se pegando do que o trabalho deles.

Mas como o próprio slogan da série diz: "Não deixe o nome te enganar". The Good Wife é um dos melhores seriados jurídicos já realizados. E o melhor da atualidade.

A afirmação acima pode até soar petulante, ainda mais considerando que, hoje em dia, temos outras séries jurídicas geniais no ar, como Damages. Mas eu jamais diria isso se não estivesse convencido das minhas razões.

E eis as argumentações... rs

1. A concorrência não tem chances.


Se a gente prestar atenção, existe um bom número de séries jurídicas no ar: The Defenders (já cancelada), Harry's Law, Franklin & Bash, etc...

Todas seguem a mesma linha: tentar chocar o público com casos controversos, mas com pitadas de humor e com personagens excêntricos e seus métodos peculiares de trabalho.

Embora sejam um bom passatempo, estes seriados empalidecem diante de outros que seguiam o mesmo estilo e eram infinitamente superiores, como a pioneira Ally McBeal e a excepcional Boston Legal (Justiça Sem Limites).

The Good Wife, por sua vez, tem um tratamento mais realista, mas sem esquecer que se trata de um programa de televisão e, portanto, precisa entreter.

Produzida pelos irmãos diretores Ridley Scott (Blade Runner, Alien - O 8º Passegeiro) e Tony Scott (Top Gun, Chamas da Vingança), a série tem um cuidado técnico digno de cinema e ainda conta com um roteiro caprichado e bem realizado.

No final das contas, a única concorrente de peso pra The Good Wife acaba sendo, realmente, Damages.

Contudo, apesar da série estrelada por Glenn Close ser eficiente, ela é muito mais voltada ao suspense que envolve os personagens do que o trabalho em si. The Good Wife, por sua vez, oferece uma visão mais abrangente do ambiente jurídico. E por ser mais completa, acaba se sobressaindo.

2. A história vai além do esperado.


Embora The Good Wife tenha a estrutura clássica de "1 caso por episódio", a série vai além da premissa de mostrar advogados lidando com o caso de semana.

O diferencial começa pela premissa do seriado: A história se concentra na vida de Alicia Florrick, esposa do Procurador Geral do Estado de Illinois, que vê a sua vida jogada nas manchetes quando o marido, Peter Florrick, é acusado de abuso de poder e envolvido em escândalos sexuais.

Enquanto o marido é preso e luta pra se livrar das acusações, Alicia se vê obrigada a voltar a exercer a advocacia, após ter passado anos afastada para cuidar dos filhos (agora adolescentes).

A partir daí, a série mostra não só os casos nos tribunais, que são sempre interessantes e bem construídos, como também apresenta o drama familiar da protagonista e o reflexo que os erros do marido provocam na vida dela e dos filhos.

Enriquecendo a história da série, somos apresentados ao dia-a-dia da Lockhart/Gardner, escritório onde Alicia trabalha, que é marcado pela politicagem interna e conflito de interesses entre os sócios.

Talvez nenhuma série jurídica tenha mostrado tanto como é difícil manter uma sociedade, especialmente em momentos de grande ascensão ou grande crise (ambas vivenciadas pelo escritório, em momentos diversos).

Acrescentando mais diversidade ao ambiente tratado pelo seriado, também acompanhamos o trabalho em campo da investigadora contratada pela Lockhart/Gardner, que ajuda a montar a defesa nos casos do escritório, bem como os bastidores políticos que envolvem o cargo de Procurador Geral - um cargo altamente almejado por alguns personagens da série.

Como dá pra ver, a série vai além da típica série jurídica e apresenta um mundo complexo e contextualizado, o que só enriquece as histórias contadas.

3. A protagonista funciona muito bem.


Eu já cansei de ver séries afundarem pela falta de carisma do protagonista. Ou então ver um protagonista promissor se perder no decorrer da história e ser engolido por personagens coadjuvantes mais interessantes.

Felizmente, The Good Wife não padece desse mal.

Julianna Margulies, a boa esposa do título, tem talento o suficiente pra tornar a história sofrida da protagonista em algo envolvente, sem cometer exageros ou tornar a personagem uma chata de galocha.

Pelo contrário, a atriz confere um carisma mais do que necessário à personagem, o que é importante pra você se importar com tudo o que ocorre em volta dela.

Talvez os anos estrelando o seriado médico E.R. tenham ensinado Julianna a comandar uma série. Mas o fato é que ela consegue carregar o programa nas costas. E olha que nem precisa, pois os parceiros de cena são igualmente talentosos.

4. Os personagens coadjuvantes se destacam.


É claro que um protagonista interessante é essencial pra um seriado decolar, mas nenhuma série é feita de uma só personagem. É necessário ter personagens que ajudem a elevar o nível das histórias e The Good Wife tem isso de sobra.

A começar pelos sócios majoritários do escritório, Will Gardner e Diane Lockhart. O primeiro, interpretado por Josh Charles, é um advogado ousado e normalmente tem as melhores cenas nos tribunais. Sem contar que Will funciona como um potencial caso amoroso pra protagonista, que vive um casamento em crise.

Já Diane, vivida pela atriz veterana Christine Baranski, sempre brilha nas histórias que envolvem crises internas no espaço de trabalho.

Na lista dos personagens notáveis, ainda temos, obviamente, o marido da boa esposa, Peter Florrick, interpretado pelo Chris Noth (que ficou marcado eternamente pelo seu papel em Sex and The City, mas que brilha nesse papel).

E destaque, também, pra Cary Agos (Matt Czuchry). Novato no escritório e promissor, esse advogado tem uma rivalidade profissional saudável com a Alicia. No decorrer da série, ele acaba indo parar no lado "inimigo", assumindo um cargo na Procuradoria e enfrentando os antigos colegas de trabalho.


Mas os meus personagens favoritos são curiosamente os não-advogados: Kalinda Sharma, a enigmática investigadora particular do escritório, responsável em desvendar fatos importantes e que possam ser usados no tribunal; e Eli Gold, um marqueteiro político que surge no decorrer da série e fica responsável em reerguer a carreira política de Peter Florrick.

Kalinda é interpretada pela atriz Archie Panjabi e sempre rouba a cena com seu jeito dúbio e pragmático (ela tem a verdadeira poker face hehehe). Não à toa, a atriz já ganhou um Emmy (o Oscar da TV americana) pelo papel.

Eli Gold, por sua vez, é interpretado pelo veterano Alan Cumming (lembrado por muitos como o Noturno de X-men 2), que confere uma esperteza e complexidade admirável ao personagem, fazendo dele uma espécie de gângster refinado inserido no mundo da política.

Logo, pode-se ver que a série conta com um elenco forte e um grupo de personagens que dá gosto de acompanhar e torcer.

5. O roteiro nunca perde a mão.


Um caso crônico das séries americanas é ficar preso a um formato ou então deixar a qualidade se esvaziar com o tempo. Felizmente, The Good Wife vem lutando com muita eficiência contra esses obstáculos.

Apesar de conter a estrutura clássica dos "casos da semana", os episódios dificilmente soam como fórmula. Ao contrário, cada capítulo sempre parece como um mini filme e segue um caminho particular.

Além disso, a série conta com as histórias fora dos tribunais, como o drama pessoal da protagonista e o ambiente de trabalho, o que garante uma continuidade bacana (ao contrário de seriados como CSI, que podem ser vistos de forma avulsa).

Já com duas temporadas nas costas, é interessante ver como as histórias continuadas evoluíram, ficando cada vez mais interessantes. A série, até agora, evitou se repetir e está sempre avançando, seja no clima do escritório ou na vida política que cerca a protagonista e sua família.

Não à toa, a boa qualidade narrativa garantiu ao seriado a indicação ao Emmy de melhor série dramática (feito conquistado nas duas temporadas). Um reconhecimento mais do que merecido ao bom trabalho desempenhado pelos roteiristas.

Conclusões.


Em suma, The Good Wife conta com todos os elementos necessários para ser um programa excepcional, desde a qualidade técnica da produção até o talento enorme do elenco e dos roteiristas.

Acho que ficou evidente o quanto eu viciei nessa série. Mas pelo menos é um vício em algo bom. E espero que outras pessoas se viciem também.

Agora que já estou devidamente atualizado com as duas temporadas, estou aguardando pela terceira, que começa em 25 de setembro. Diversão e qualidade garantidas.